segunda-feira, 25 de maio de 2009

Breve histórico da agricultura brasileira e a importância da conservação do solo – com ênfase à região cacaueira da Bahia

As terras que constituem o Brasil foram ocupadas de maneira predatória desde a sua incorporação, como era comum na época em que os portugueses aportaram. Os primeiros europeus fixaram-se por estas terras para retirar sua riqueza e obter ganhos rápidos. Depois, incorporaram técnicas indígenas no cultivo de alimentos, como a queimada, e plantaram o que estavam acostumados a comer em Portugal. Nesse processo de ocupação registrou-se uma intensa devastação das condições naturais.
Na época do descobrimento, a mata atlântica cobria cerca de 1 milhão e cem mil quilômetros quadrados do território nacional. Hoje, não existe mais de 8% do seu território original, resultado dramático de uma ocupação de efeitos devastadores. No sul da Bahia, aconteceu o mesmo, sendo essa região um consistente exemplo de má utilização do ecossistema florestal, com reflexos danosos, tanto ecológicos, quanto sociais e econômicos.
Os europeus implantaram um modelo baseado na grande propriedade monocultora que permanece atualmente, e os hábitos de exploração da terra para obter ganhos rápidos, deles herdados, forneceram os moldes para o tipo de agricultura que se adota atualmente.
De maneira muito simples, o sociólogo Donald Pierson, em seu último livro (Teoria e Pesquisa em Sociologia) exemplifica essa questão de herdar costumes citando as crianças, que usam seu equipamento vocal ainda desorganizado ao emitirem sons sem sentido específico. Que língua se desenvolverá a partir desses atos vocais casuais? Evidentemente, a língua, ou línguas faladas a sua volta. Numerosos outros hábitos comuns ao grupo a que lhe pertence lhe serão sugeridos como, por exemplo, as práticas associadas à alimentação, e seja qual for a resposta às necessidades biológicas, a criança aprende a organizar seus hábitos de acordo com os costumes do grupo em que nasceu. Daí pode-se entender o porquê da perpetuação do modelo tradicional de agricultura no Brasil.
Porém, de acordo com as necessidades, muitos hábitos se modificam ao longo do tempo, por isso, a preocupação com as questões ambientais está cada vez mais gerando discussões no meio agropecuário, que por falta de práticas conservacionistas e pelo manejo inadequado do solo permitiu o aparecimento de áreas degradadas, seja devido a atividades agrícolas ou pecuárias

Se pudéssemos fazer a criança compreender o significado do solo enquanto seus conceitos de vida estão sendo formados, a conservação tornar-se-ia parte do seu modo natural de pensar, talvez um hábito para o resto da vida. No meu modo de pensar, isto significa conseguir que o conceito do solo, como recurso básico do homem, penetre no sangue da juventude e aí permaneça como uma parte de seu corpo e espírito na maturidade. Se tivéssemos maior numero de homens que fossem conservacionistas por natureza, a Terra seria um lugar melhor para viver. O modo mais adequado para atingir esse estado ideal de espírito é compreender, desde a infância, o que realmente significa o nosso melhor amigo: o solo produtivo”.
Dr. Hugh Bennet

Todos, incluindo quem vive nas cidades, precisam saber que o solo – “compartimento” ambiental essencial para a produção de alimentos e matérias-primas para a humanidade – é fundamental para a existência da vida! Por isso a sua conservação se faz importante no presente e será ainda mais crítica no futuro, na medida em que aumentam as pressões populacionais – pressões essas que forçam o uso de glebas para produção de alimentos que o bom senso aconselha, deveriam ser mantidas como florestas.
As melhores formas de minimizar esse processo contínuo de degradação de áreas são a difusão de conhecimentos sobre práticas conservacionistas e o planejamento do uso do solo com base em relações entre informações científicas e da cultura local. Infelizmente, na maioria das publicações técnicas sobre a cacauicultura não consta um item dedicado a conservação do solo. Será que os agricultores da região cacaueira da Bahia não precisam adotar técnicas conservacionistas?
É certo que essa região possui a maior parte das terras cultivadas em sistemas agroflorestais (SAF), o que é uma excelente estratégia para evitar a erosão, no entanto, isso não significa que o cacauicultor possa ficar despreocupado. Em áreas declivosas, como é o caso da região, a cobertura do solo proporcionada pelo SAF não é suficiente para evitar a erosão, e desse modo deve-se introduzir alguma prática de conservação para aumentar a resistência do solo, pois o cultivo de um solo erodido quase sempre é sinônimo de insucesso e os danos causados não atingem apenas ao agricultor, mas sim a toda nação.
Enfim, a manutenção de uma agricultura permanente depende de muitas ações que começam com a divulgação das técnicas geradas pela pesquisa. Num sentido mais amplo, é preciso enxergar a agricultura de um modo diferente do tradicional respeitando os sistemas naturais e buscando compreender os processos que lhe são inerentes.

2 comentários:

  1. Excelente relato!
    Parabéns.
    Joanes Gregorio dos Santos

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  2. Grande Mestre Dr.Paulo "Boavolta"!
    Muito oportuno e feliz, Vc foi nesse excelente texto...parabéns!
    OX

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Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..." (Confúcio)

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