segunda-feira, 25 de maio de 2009

“Eu uso a agricultura-arte, juntamente com a ciência”


O cacauicultor Edvaldo Sampaio, engenheiro agrônomo e ex-funcionário da Ceplac, concedeu entrevista à repórter Cristina Santos Pita, da Sucursal A TARDE, em Santo Antônio de Jesus, sobre como se tornou um incansável em buscar soluções para livrar as fazendas que possui, na região de Gandu, da catástrofe da vassoura-de-bruxa.Com práticas simples e econômicas, conseguiu enganar o fungo responsável pela proliferação da doença que há dez anos dizimou milhares de lavouras no Estado. Hoje seus cacaueiros são carregados de frutos sem sinais da vassoura-de-bruxa em quatro fazendas num total de 320 hectares de cacau. Foi convidado pelo ministério da Agricultura a fazer parte do PAC do Cacau, a fim de provar a viabilidade econômica da cultura. Agora, se prepara para lançar o livro “Realizações de um cacauicultor”, baseado nas experiências bem sucedidas onde incorporou seus trabalhos de 20 anos no cacau safreiro, e, mais pela intuição, criou um conjunto de técnicas eficaz contra o fungo.As técnicas já estão sendo adotadas por inúmeros cacauicultores. Ainda sem data e local definidos de lançamento, o livro, com uma linguagem simples, pretende atingir quem trabalha nas fazendas de cacau. O livro, organizado pela artista plástica Isabel Delmondes, de 184 páginas, seria lançado dia 5 de junho, Dia Internacional do Cacau.
A TARDE: Qual a sua intenção ao escrever o livro “Realizações de um cacauicultor”?
Edvaldo Sampaio: Há a agricultura científica e a agricultura arte. A científica é aquela que conduz a lavoura aos meios científicos. O meu objetivo é a agricultura arte. Transformar os meios em uma agricultura ao alcance de todos. Mudei o perfil da agricultura do cacau. Baseado nisso, minhas práticas são simples, econômicas e de grande proveito para a região, por isso quero difundi-las.
AT - A quem será útil a leitura desse livro?
ES – Para o cacauicultor que mora fora e tem administradores. Ele terá uma cartilha com um linguajar simples, tipo jeca-tatu.
AT O senhor acha importante investir em pesquisas?
ES – Sim. Mas a pesquisa tem 40 anos investindo e até hoje não temos resultados práticos. De pesquisa hoje no cacau sobre a vassoura-de-bruxa tem o que aprendi há 40 anos. Quando a vassoura me danificou pela primeira vez, eu modifiquei tudo. O que fiz foi uma inversão de datas. É prática comum na região até hoje se fazer a poda nos meses de janeiro, fevereiro, março e abril. Eu apenas inverti e comecei a fazer a poda em setembro, outubro, novembro, e no início de dezembro eu termino. Aí entra a pesquisa do Dr. Gonçalo Amarante Guimarães Pereira (professor do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp/SP). Porque se eu fizer nos meses tradicionais, a planta renova ao tecido meristemático, que é o tecido novo que o fungo gosta.
AT – Então, o senhor uniu a sua experiência e intuição com a pesquisa científica?
ES – Com a pesquisa, e pela intuição achei que devia fazer antes. Quando eu começo a poda em setembro e termino em dezembro, já terminei minha prática de poda. Mas, segundo os pesquisadores, a vassoura ataca meus pões de cacau. Mas, quando chega nas folhas, as encontra maduras e o ciclo de vida do fungo é de quatro horas, como ele não consegue penetrar porque as folhas estão maduras, ele morre.
AT – E com as folhas novas, o efeito é contrário?
ES – Se estiverem todas vivas e novas, todas seriam atacadas. Se porventura tiver algum ramo verde eu usei o nitrogênio, tendo como fonte a uréia. No nitrogênio, nas plantas novas, no espaço meristemático, está o nitrogênio. O fungo lança as raízes, mas quando penetra um pouco, encontra o nitrogênio e morre. A minha prática não tem segredo para ninguém. Foi apenas a intuição aliada a prática e a ciência.
AT Que avanços o senhor obteve nesses últimos anos?
ES – Tive avanços econômicos e dei grande subsídio para a ciência. Quando a vassoura me atacou pela primeira vez, o Dr. Gonçalo Guimarães chegou na minha fazenda, sentiu o que estava fazendo e voltou depois com Júlio Cascado (Pro-reitor da Uesc). Eles estavam no Projeto Genoma para descobrir tudo o que descobri. Esse projeto era patrocinado pelo governo e ia levar dez anos. Correu a fazenda toda e me deu grande satisfação quando disse: “O Projeto Genoma terminou agora com seis meses de uso porque o Edvaldo, pela intuição, avançou tanto que o que queríamos descobrir ele já fez. O que temos agora é estudar e comprovar cientificamente se o que ele fez está certo ou errado”. Comprovaram: tudo que fiz está certo.
AT O senhor foi criticado por suas experiências?
ES – Sempre digo: quem é bom, faz e dá resultados. Para a pessoa dizer que tal prática deu resultado, é preciso que ele mostre. Quem quiser me contestar, primeiro tem de apresentar seus feitos. Tenho nove anos que não sei o que é queda de produção. Tudo isso é bom quando se comprova coma prática. Vimos através do jornal A TARDE que milhares de cacauicultores devem ao Banco do Brasil e que não têm condições de pagar. Jamais irão pagar ao banco, não por má vontade, mas porque não têm capital. Eles lutam pela sobrevivência. Não têm condições de investir nada.
AT O senhor se considera um cacauicultor independente?
ES – Sim, e gozo a independência de hoje porque não fiz práticas erradas. Os órgãos oficiais, principalmente o Banco do Brasil, foram os responsáveis pela dívida de hoje. Sem ter os conhecimentos científicos necessários, eles nos induziam às práticas erradas. Para você ter acesso ao dinheiro de uma supervisão, é preciso que você faça isso. Como o cacauicultor não tinha autonomia, ele realizou erroneamente todas as práticas. Naquela época, tive a independência de colocar um fiscal do banco para fora.
AT – O que o senhor acha do Plano Executivo para Aceleração do Desenvolvimento e Diversificação do Agronegócio na Região Cacaueira do Estado da Bahia, o PAC do Cacau?
ES – Para mim é uma grande satisfação. Fui convidado pelo ministério da Agricultura para fazer parte do PAC do Cacau para provar a viabilidade da cultura. Se eu dissesse que o cacau era inviável, haveria o PAC nacional, mas não haveria o cacau. Comprovei que a cultura é econômica, o cacau está incluído no PAC e tem a única assinatura de um agricultor, que é a minha. O PAC está demorando muito e à medida que demora a região vai se afundando. A região sul é propícia a cultura do cacau, mas precisa de capital novo para investir e seguir os métodos que já deram certo.
AT – O senhor participa da lista do cacau, uma lista de discussão via internet. O senhor acha que a lista tem beneficiado os produtores?
ES – Tem beneficiado muito porque é uma lista atualizada. Tudo o que tem saído no mundo sobre cacau temos conhecimento através da lista, que louva aqueles que pesquisam e critica aqueles que ficam com pesquisas velhas e caducas que não dão resultado nenhum. Ganhei um bom conceito na lista.
AT – Em que situação estão as lavouras vizinhas às suas propriedades?
ES – As notícias que tenho da lista do cacau e dos visitantes, até dos cacauicultores, é que a região está fraca de temporã. Para minha surpresa, vou colher um grande temporão. No início de maio, foram entregues 296 sacas de cacau temporão. Visitei minhas fazendas e tem cacau ‘prá burro’. A região está crítica. Não tem nada. Eu uso a agricultura arte, que é difícil na agricultura porque sempre antecipo aquilo que pode acontecer. Isso devido há 40 anos de vivência e vivendo exclusivamente do cacau. Sempre fui um produtor de média de 120 arrobas por hectare. Fazendas minhas eu dobrava e triplicava de produção. Introduzi os métodos do cacau safreiro na clonagem e essa foi minha salvação. É o que os cientistas chamam de agricultura arte. Não fiquei só na clonagem.
A TARDE ON LINE dia 25/05/2009 às 08:40 Cristina Santos Pita Sucursal Santa Antônio de Jesus.

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"Os homens perdem a saúde para juntar dinheiro, e depois perdem o dinheiro para a recuperar. Por pensarem ansiosamente no futuro, esquecem o presente, de tal forma que acabam por nem viver no presente nem no futuro.
Vivem como se nunca fossem morrer e morrem como se não tivessem vivido..." (Confúcio)

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