segunda-feira, 20 de abril de 2009

Pesquisa ajudou fazenda baiana a derrotar fungo de cacau

EDUARDO GERAQUE
da Folha de S.Paulo

Se depender do sul da Bahia - mais precisamente da Ilhéus de "Gabriela, Cravo e Canela", de Jorge Amado -, os "chocólotras" podem ter mais esperanças. Vítima do fungo vassoura-de-bruxa, o cacau da região está ressurgindo, com promessa de gerar exportação, incentivar o ecoturismo e ajudar a preservar a mata atlântica.
Ramos de cacaueiro contaminado pelo fungo vassoura-de-bruxa
Um dos exemplos onde esse tripé já existe é a fazenda Porto Novo, que tem entre os sócios o geneticista Gonçalo Pereira, da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"Fechamos negócio com dez navios neste verão para que turistas visitem a fazenda e compreendam desde a cabruca até como se faz chocolate", disse à Folha.
Cabrucas são plantações de cacau misturadas com árvores de mata atlântica, que refrescam o cacaueiro fazendo sombra.
A ligação de Pereira com a região surgiu quando ele resolveu estudar a genética da vassoura-de-bruxa, praga que acabou com a produção cacaueira na Bahia durante os anos 1990. A produção de cacau em Ilhéus despencou das 390 mil toneladas anuais em 1988 para 100 mil toneladas em 2000.
O tempo de prejuízos, porém, começa a virar apenas uma lembrança. Em 2005, a Porto Novo voltou a exportar. "Foram 13 toneladas de cacau. Somos o maior exportador do país", diz Raphael Hercelin, parisiense radicado em Ilhéus que agora administra os 870 hectares da fazenda.

Tentativa e erro
O mérito pelo ressurgimento do cacau em Ilhéus é repartido pela ciência, pela cultura e pelo trabalho empírico --neste caso, o crédito é de Edvaldo Sampaio, de outra fazenda.
O agrônomo, que nunca aceitou a derrota imposta pelo fungo, conseguiu fazer seus pés de cacau reagirem no campo. Primeiro com enxertos de plantas mais resistentes. Depois, com uma adubação especial. E, terceiro, induzindo o florescimento do cacau no primeiro semestre - o fungo, devido ao ciclo, ataca mais no segundo.
Quando o trabalho de Pereira deu os seus primeiros resultados, produtor e cientista uniram seus conhecimentos, e tudo foi para o campo. Sampaio, até então, trabalhava sozinho.
Hoje, explica Hercelin, a receita tem como base os dados empíricos, mas, em alguns casos, a ciência também está presente. Primeiro vem a poda para deixar o cacau forte. Depois a adubação química especial e, em terceiro lugar, o corte dos anéis da planta, necessário para alterar a data de floração.
Mas o trunfo atual da centenária cultura cacaueira baiana é a cabruca, que não existe na África. Além de o cacaueiro ficar à sombra no meio da mata, a diversidade botânica se torna maior. Assim, a área fica mais refratária a eventuais pragas.
Os produtores, dentro desse ressurgimento, reivindicam que esse tipo de plantação seja considerado área de reserva para poderem ampliá-la. Segundo Durval Mello, da ONG Instituto Cabruca, a região tem hoje 400 mil hectares de cabruca.
"Caso a cabruca não seja aceita como reserva", diz o ambientalista, "70% dela deixará de existir". O manejo, que hoje defende Ilhéus do fungo, é apenas o passo inicial. A região, mesmo investindo em cacau fino, não pode ainda produzir como a África.

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