quarta-feira, 26 de agosto de 2009

BAIXO CARBONO ESTIMULA NEGÓCIOS


Para o Valor, de São Paulo

Empresas brasileiras, sobretudo as que atuam globalmente, entenderam que o caminho rumo à economia do baixo carbono é inexorável e repleto de oportunidades. O Brasil pode ser líder nesse percurso, caso crie um sistema de governança na área. As afirmações são de Tasso Azevedo, que recentemente deixou a direção-geral do Serviço Florestal Brasileiro, para se tornar consultor para florestas e clima do Ministério do Meio Ambiente, e assessor do Fundo Amazônia, do BNDES, um modelo de financiamento para a conservação das florestas em pé. No ministério, Azevedo ajuda a preparar a posição brasileira na 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (15ª COP), a acontecer em Copenhague, Dinamarca, em dezembro. A seguir, os principais trechos da entrevista para o Valor.
Valor: Como o Sr. entende a crescente preocupação das empresas com as mudanças climáticas?
Tasso Azevedo: As evidências científicas trazidas pelo Painel Internacional sobre Mudanças Climáticas, (IPCC, na sigla em inglês) comprovaram que teremos situações dramáticas, de alto custo para a adaptação, sobretudo se a temperatura global média subir mais de 2º C. Para o Brasil, o risco é ainda maior, pois nossa matriz energética depende do ciclo hidrológico, que seria muito afetado. O risco da não-ação é alto e isso foi entendido pelo meio empresarial.
Valor: Se o movimento começa pelas empresas com atuação global, como irá se ampliar?
Azevedo: Na economia de baixo carbono, a tecnologia de produção dos fornecedores repercute no cálculo das emissões do produto final. Por isso, algumas empresas brasileiras de atuação global começaram a trabalhar com suas cadeias de valor. Mas, para a expansão, é importante que o Brasil defina as regras do jogo. E que estimule as melhores práticas.
Valor: Como fazer isso?
Azevedo: Por exemplo, na reconstrução da indústria automobilística nos EUA, a justificativa ambiental direcionou mudanças econômicas estruturais. O governo impôs modelos de menor consumo e menos emissões atmosféricas e as indústrias perceberam que a economia do baixo carbono representa uma oportunidade. Nesse sentido, se o Brasil se posicionar de forma mais agressiva no cenário internacional, com uma atitude mais proativa de incentivo à adaptação à nova economia, pode assumir a liderança nessa área.
Valor: Poderia detalhar?
Azevedo: O país deveria apoiar a meta global de 2ºC como limite de aumento da temperatura média do planeta. Significa uma redução drástica das emissões até 2050, apenas viável se envolver os países desenvolvidos, obviamente com responsabilidade maior, e também os em desenvolvimento, inclusive Brasil. É como a parábola do barco cheio de furos que começa a afundar. Não basta dizer que quem fez os furos deve tampá-los, enquanto os outros passageiros cruzam os braços.
Valor: Como estimular a economia do baixo carbono?
Azevedo: Tivemos no Brasil um período para criar estabilidade econômica, maior legado do governo anterior. Mais recentemente, focou-se a área social, com importantes conquistas. Agora, precisamos do esforço para criar um Brasil sustentável. Temos o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, com a meta ambiciosa de reduzir em 80% o desmatamento até 2020. Mas devemos avançar, com uma política das mudanças climáticas.
Valor: Na prática, como se daria esse avanço?
Azevedo: A defasagem nas estimativas das emissões nacionais dificulta o planejamento. Elas deveriam ser anuais, mesmo que de baixa precisão, com um inventário completo a cada três anos. Além disso, um órgão setorial deveria ser criado para negociar metas e incentivos com cada setor da economia e mecanismos de controle para a redução das emissões. Também falta uma política de desenvolvimento, em que a economia de baixo carbono seja tema central.
Valor: O financiamento da Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação florestal (Redd), que é polêmico, deve ser aprovado na COP-15?
Azevedo: Não há mais dúvidas que sim. A conservação das florestas é crucial para evitar as principais formas com que a humanidade contribui para o aquecimento global. A mais conhecida é o aumento das emissões dos gases estufa. Mas há a mudança do regime hidrológico: florestas são como uma bomba de água no ciclo hidrológico, levando vapor para a atmosfera. (S.C.)
Fonte: Valor Econômico - SP; 26/08/2009

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